A maior parte dos doentes internados em UCI estão sujeitos a uma série de estímulos que potenciam alterações cognitivas e sensoriais dificultadoras da comunicação. Estas alterações estão de um modo geral associadas à presença do tubo traqueal ou traqueostomia que impossibilita logo à partida a comunicação verbal. Para além da existência do tubo traqueal, teremos de entrar em linha de conta com aspectos como a dôr física e o sofrimento emocional, a pouca diferenciação entre noite e dia, algum tipo de medicação utilizada que poderá ser desencadeador de fenómenos psíquicos de desorientação halo e autopsíquica, a utlização de técnicas invasivas, a não presença da família e outros motivos que de igual forma influenciam de sobre maneira a comunicação e a forma como esta é entendida tanto pela equipa como pela pessoa em situação crítica.
Deste modo, o desenvolvimento de competências por parte da equipa da UCI na área da comunicação é essencial pois promeverá uma recuperação mais humanizada dos utentes da UCI impossibilitados de comunicar de forma verbal.
Em todas as UCIs desenvolvem-se estratégias para que as pessoas se possam entender na prestação diária de cuidados das quais destacaria:
Será importante para a equipa desenvolver formação em serviço que tenha por objectivo transmitir conhecimentos e uniformizar o entendimento dos elementos da equipa nesta área;
Orientar constantemente a pessoa tratando-a pelo nome com que se identifica;
Utilização de quadro de letras poderá ser muito eficaz;
Proporcionar papel e caneta também é uma estratégia válida mas atenção que se a pessoa estiver ainda sob efeito de sedação terá dificuldade em escrever, deve-se aconselhar que faça cada letra bem grande e espaçada e se isto não resultar deve-se adotar outra estratégia pela angustia e irritação/frustração que o não ser capaz de se fazer entender provoca;
Estar muito atento à mímica facial e gestos, solicitando abertura lenta dos lábios. De salientar que a maior parte das vezes as pessoas tentam pedir água, saber as horas e o dia, saber das visitas, se vão ficar muito tempo, referem dores, tentam verbalizar que chegou o “fim da linha”, ás vezes só querem que se coçe o nariz ou a barriga;
Códigos de abrir e fechar os olhos e apertar a mão em caso afirmativo costumam ser muito eficazes;
Utilização de apps com texto/imagens em forma de mensagens.
Teremos sempre de considerar que do outro lado temos alguém que poderá estar desorientado, desorganizado, poderá inclusivamente apresentar quadros delirantes e alucinatórios que muitas vezes só são identificados aquando da extubação.
Comunicar em UCI com utentes impossibilitados de o fazer de forma verbal, é uma tarefa difícil que implicará por parte da equipa um esforço extra no sentido de desenvolver competências nesta área. Com a experiência pessoal, com a observação de colegas mais experientes e com a frequência de formação nesta área tudo poderá melhorar.