segunda-feira, 24 de setembro de 2007

QUANDO A MORTE É REAL


Muitas vezes deparamo-nos com situações em que se chegou ao fim da linha...muitas vezes a morte cerebral instalou-se irreversivelmente num dos nossos doentes, sendo que nessa altura somos confrontados com uma série de questões relativamente ao que se deve ou não fazer, numa mistura confusa de sentimentos, emoções, sensação de frustração de derrota, pena. Perguntamo-nos deve-se fazer o quê até que ocorra a paragem irreversível? Vale a pena Alimentar? Manter acesso venoso? Que vigilância e monitorização? Posiciono? Que conforto proporcionar? Que dizer à família? Proporciono a sua presença no momento da paragem cardíaca?

Todos estes pensamentos assolam-nos, vezes sem conta no nosso quotidiano, num ambiente frio de tecnologia, com alarmes estridentes a todo o instante, frases típicas, "doente em paragem - AJUDA"; "Foi-se"; "Mais uma alta celestial"; "Lá vou eu ter que avisar a família"; "Coitado era ainda tão novo"; "Alguém que me ajude a preparar o cadáver para a morgue"; "Fala o Enfermeiro S...dos Cuidados Intensivos, falo com a esposa do Sr C...? Olhe, sabe que o seu marido não se encontra muito bem? Infelizmente tenho uma muito má notícia para lhe dar";

Por vezes damos por nós a pensar em todas estas coisas invadidos por melancolia, tristeza, do quanto estamos fartos e cansados de tanto sofrimento. A hora da despedida é terrível. Não nos ensinam a lidar com estas coisas durante o curso nem ao longo da nossa vida...vamos aprendendo, tentando fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem a nós. E confesso que mesmo com muitos anos de profissão é sempre um momento de tristeza ver alguém partir e ter de dar esta notícia aos seus familiares. Acontece-me muitas vezes pôr-me no lugar daqueles que ficam a sofrer e pergunto-me "e se fosse eu a estar naquela situação?"; Por vezes têm reacções que estou convencido que também teria. Se alguém muito amado por mim partisse sem dizer adeus, sem uma despedida, sem ter tido a hipóteses de esclarecer coisas que deveriam ter sido esclarecidas, o meu coração ficaria destroçado de tanta dor de tanta tristeza e frustração, mágoa e culpa talvez. É muita mágoa, é muito sofrimento para gerir.

Mas a vida continua e este momentos de reflexão fortalecem-nos pois é sempre bom saber que mais alguém pensa e sente como eu esta ténue fronteira entre vida e morte.

PS. desculpem o desabafo, muito mais haveria para dizer mas por hoje fico por aqui, porque estou cansado, fiz noite e ainda não dormi.

1 comentário:

  1. Boa tarde.
    Sou aluna do 4º ano de Enfermagem e foi-me proposta a realização de um trabalho acerca da problemática da morte numa UCI. Gostaria de saber se não tem artigos que me possa facultar acerca deste tema.
    Poderá entrar em contacto comigo através do mail n.esteves87@gmail.com

    Agradeço dede já a sua disponibilidade,

    Natacha Esteves

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