terça-feira, 13 de outubro de 2015

GENTE QUE CUIDA DE GENTE...E QUE POUCO CUIDA DE SI E DOS SEUS



Considerações relativas à equipa de enfermagem da UCI

As UCIs, segundo o estudo realizado por Vila & Rossi (2002), são unidades altamente geradoras de stress para todos os intervenientes (doentes, família e profissionais). Para estes autores, a equipa de enfermagem está provavelmente mais sujeita a stress que qualquer outra do hospital pois tem de lidar de forma mais envolvida com doentes e seus familiares e em simultâneo com as suas próprias emoções e conflitos num ambiente onde se identifica como principais fontes de stress o predomínio do inesperado, o ambiente de crise, a incerteza, a morte eminente, a sobrecarga de trabalho, má utilização de habilidades médicas e a falta de reconhecimento dos profissionais por parte das chefias de enfermagem, parceiros médicos e familiares. Todas estas fontes de stress, levam a manifestações no seio da equipa relacionadas com ansiedade, tensão, fadiga física e emocional o que implicará, falta de segurança na prestação de cuidados, pouco envolvimento nas relações com os utentes e seus familiares bem como entre os parceiros da equipa. Uma equipa stressada falha na humanização pela superficialidade com que presta cuidados, pelo afastamento que impõe, pela falta de comunicação, pelo predomínio das técnicas sobre as relações, pelos cuidados centrados na doença e nas técnicas e essencialmente medicocênctricos em detrimento do doente que deveria ser sim, o centro dos cuidados. Por todos estes motivos os autores sugerem que para cuidar é preciso ser cuidado, numa alusão à importância de uma equipa gozar de boa saúde para que cumpra com aquilo que é esperado de si, cuidar em cuidados intensivos de forma humanizada. Esta humanização só será conseguida se os profissionais de enfermagem se humanizarem para humanizar as suas práticas (Silva, 2000).


Nesta linha de pensamento está Ferrareze et al (2006), que no estudo realizado concluíram que 66,7% da amostra, apresentava sinais de sofrimento físico/psicológico, característico da fase de resistência ao stress. Perante números tão marcados é urgente intervenção, cuidar de quem cuida. É necessário investir mais esforços na prevenção do stress entre os enfermeiros, proporcionando maior rendimento no trabalho, ambiente seguro, agradável e cuidados de qualidade (Britto & Carvalho, 2005)
Na bibliografia consultada, verifiquei que de facto stress e burnout entre os enfermeiros das UCIs, tem dado origem a muitos estudos que visam a identificação dos agentes causadores e medidas que minimizem a sua prevalência entre os enfermeiros.

Na perspectiva de Milliken et al (2007), e do ponto vista das organizações de saúde, a ansiedade, o stress e o burnout dos enfermeiros são os principais responsáveis pela morbilidade e absentismo entre esta classe profissional e por isso é de todo desejável que os serviços implementem medidas, programas que visem o seu controlo ou mesmo erradicação, na medida em que o peso económico e a qualidade que cada vez mais se exige, assim o determinam. Para estes autores é fundamental agir sobre as causas deste stress e para isso, primeiro que tudo é preciso conhecê-las. São muitas as causas de stress entre os enfermeiros a exercer em unidades críticas (Turley, 2005), a natureza crítica dos cuidados, pouco pessoal para fazer face a contenção de despesas numa filosofia de fazer muito e bom com pouco e exigindo-se o que à partida não pode ser exigido, trabalho extraordinário inesperado mas frequente, horário rotativo que não tem em conta as alterações fisiológicas inerentes a este processo, pouco tempo de descanso entre um turno e outro, trabalhar de perto e diariamente com a morte e com o sofrimento humano, o risco de acidentes de trabalho sempre presente, maus relacionamentos com parceiros da equipa e com outros de outras classes profissionais, dificuldades de relacionamento com as chefias, avaliações injustas ou que não corresponderam às expectativas, a possibilidade de um erro fatal. Para os autores seria importante que os gestores de enfermagem implementassem um programa de gestão de stress que tivesse em conta as seguintes linhas orientadoras: reuniões de serviço onde se abordasse esta problemática sensibilizando para o problema; possibilitar a presença na equipa de um profissional que proporcionasse apoio a nível individual ou em grupo; as chefias devem sempre que oportuno utilizar o reforço positivo como estratégia para motivar os seus profissionais; monitorização sistemática do stress na equipa com aplicação de escalas e actuando sobre os indivíduos com níveis mais elevados com medidas adaptadas às alterações que já apresenta; utilizar férias ou folgas como estratégia para afastar enquanto ainda possui mecanismos de defesa; respeito pelas pausas para café e refeições; proporcionar pausas aos indivíduos que aparentem estar mais stressados ou após uma situação emocionalmente difícil; instruir os membros da equipa para o relaxamento e proporcionar por cada turno 5 minutos para o efeito; proporcionar treino em comunicação (Verdon et al, 2007); aproveitar as reuniões de equipa para actividades pré-reunião que promovam o bem-estar e o riso, por exemplo, antes de uma reunião de serviço convidar os colegas a dar 2 minutos de massagem nos ombros do colega que está à sua direita seguindo-se nos 2 minutos seguintes o que está à esquerda, esta actividade costuma resultar numas boas gargalhadas, contribui para a redução do stress e espírito de grupo/equipa. As chefias que se preocupam com a gestão do stress no seio da equipa, estão a contribuir para a qualidade de vida dos seus elementos e consequentemente a investir em qualidade de cuidados de enfermagem e cuidados seguros.


Ainda a nível do stress profissional, acho válido destacar o trabalho realizado por Santos & Teixeira (2008), que no seu trabalho de validação da escala Nursing Stress Sacle à população portuguesa, concluem no seu estudo que para actuar na prevenção deste fenómeno é fundamental a monitorização das causas pela aplicação da referida escala aos enfermeiros em risco de vir a desenvolver este distúrbio. Esta escala identifica sete causas de stress profissional divididas por três dimensões: O ambiente físico, onde está contemplada a causa, “carga de trabalho”; O ambiente psicológico, onde estão incluídos, “a morte e o morrer”, “preparação inadequada para lidar com as necessidades emocionais dos doentes e dos seus familiares”, “falta de apoio dos colegas”, “incerteza quanto aos tratamentos”; O ambiente social, onde estão incluídos, “conflitos com os médicos”, “conflitos com outros enfermeiros e com os chefes”. Pela aplicação da escala é possível no trabalhar da mesma, identificar pontos fortes e fracos na equipa, zonas onde é maior a vulnerabilidade e a partir daí definir um plano de intervenção para o grupo ou mesmo individualizado a uma equipa ou pessoa. As intervenções irão sempre de encontro às áreas que necessitam de maior investimento. É um instrumento constituído por 34 itens, muito fácil de preencher e que poderá ser uma mais-valia importante em termos da intervenção, gestão e controle de stress na equipa de enfermagem.

No caso do estudo apresentado por Hays et al (2006), um outro factor a ter em conta e que necessita de ser estudado e monitorizado é o estilo de coping do enfermeiro. No estudo apresentado identificou como principais agentes stressores dos enfermeiros, a escassez de pessoal de enfermagem nos serviços em estudo, o tipo de chefia, a presença de maus colegas, as tomadas de decisão e o ambiente barulhento. Em relação aos estilos de coping demarca-se o “aceitar responsabilidade”(acepting responsability), como o estilo mais usado pelo grupo em estudo, seguido do “plano de resolução de problemas”(planful problem solving). Perante este estudo sugere-se como intervenção nas equipas de educação acerca de coping e estilos de coping como forma de munir os enfermeiros com um importante instrumento que auxiliará na manutenção da sua saúde mental.


Uma outra abordagem preconizada por Pereira & Bueno (1998), prende-se com a utilização do lazer e recreação como estratégia utilizada para fazer frente ao stress a que os profissionais de UCIs estão sujeitos. Para as autoras o lazer poderá ser fundamental para cimentar as relações interpessoais e a comunicação bem como para o alívio de tensões tendo em conta a melhoria da qualidade de vida dos profissionais. Estas referem que os níveis de stress são elevados (Gomes, 1988), essencialmente pelo ambiente, equipa, relação enfermeiro/doente, relação enfermeiro/família.

Sem comentários:

Enviar um comentário

CONVERTENDO LITROS DE O2 EM FiO2

SE GOSTA DA PÁGINA VIVER ENFERMAGEM EM CUIDADOS INTENSIVOS E AINDA NÃO FEZ LIKE, PODE FAZER ABAIXO. SE JÁ FEZ, CONTINUE POR AQUI ;) ...