Hoje apeteceu-me ir ao baú buscar este artigo que escrevi em 2011. De facto como o próprio título indica, directamente nada parece ter a ver com cuidados intensivos e com a nobre missão de salvar vidas mas por outro lado falar de saúde mental em cuidados intensivos é algo que faz todo o sentido porque não há saúde sem saúde mental e por muitas mais razões... Este artigo pretende fazer um retrato da nossa sociedade que marca tudo o que é diferente e exclui essa diferença. O que retrata este artigo pode ser facilmente transportado para todos os contextos actuais dentro e fora da saúde, nos cuidados intensivos e na saúde mental.... salvando vidas ou salvando almas... ;)
Quem não se lembra do filme protagonizado por Jack Nicholson que no auge da sua carreira entra no filme “Voando sobre um ninho de cucos”? Era eu um adolescente de 16 anos (em 1986) quando pela primeira vez vi este filme, na altura, lembro-me que fiquei muito impressionado com os abusos e violações dos direitos humanos das pessoas portadores de doença mental, bem como com as lobotomias que na época se realizavam deixando muitos dos intervencionados em perfeitos vegetais e estamos a falar de um filme que sai em 1975 por Milos Forman. Muito rapidamente, a história passa-se à volta de um indivíduo delinquente que para não ir parar à cadeia finge-se de doente mental… mal sabia o que o esperava. Este herói confrontado com a realidade que se vivia na época nos hospitais psiquiátricos, consegue ainda assim “lutar” contra muitas das atrocidades que se cometiam, lidera uma revolução no hospital, reivindica direitos, dá esperança a muitos dos seus companheiros mas no fim acaba por ser vencido pelo sistema, sujeito a uma lobotomia acaba vegetal perdendo a batalha.
Este filme teve o condão de chamar a atenção da opinião pública Mundial para os direitos dos seres humanos portadores de doença mental e permite-nos imensas reflexões/questões acerca desta temática. Na natureza a mãe cuco põe os seus ovos nos ninhos de outros pássaros, que quando eclodem trazem à luz do dia “cucinhos” que expulsam do ninho os seus irmãos condenando-os a uma morte certa, tornam-se assim nos únicos sobreviventes e perpetuando este comportamento próprio da sua espécie geração após geração - sobrevivem os mais fortes e astutos.
Será que nós sociedade não nos comportamos como esta ave, colocando fora do nosso mundo/ninho todos os que são mais fracos, diferentes? Não estamos a perpetuar comportamentos através das gerações?
O passado da psiquiatria é negro, abusivo alimentando o estigma que está dentro de cada um de nós, ninguém gosta de ser diferente porque a pressão social é enorme, na realidade na nossa individualidade todos somos diferentes mas não aceitamos a diferença dos outros como um direito individual e o resultado é andarmos a empurrar para fora do ninho todos os que podem competir pelo O2 que existe na natureza a 21% mas que mesmo sim dá para todos nós: os iguais e os diferentes
SIDÓNIO FARIA
In Joandeíno n-35 Jan-Mar 2011
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