Considerações relativas à equipa de
enfermagem da UCI
As UCIs, segundo o estudo realizado por Vila & Rossi (2002), são
unidades altamente geradoras de stress para todos os intervenientes (doentes,
família e profissionais). Para estes autores, a equipa de enfermagem está
provavelmente mais sujeita a stress que qualquer outra do hospital pois tem de
lidar de forma mais envolvida com doentes e seus familiares e em simultâneo com
as suas próprias emoções e conflitos num ambiente onde se identifica como
principais fontes de stress o predomínio do inesperado, o ambiente de crise, a
incerteza, a morte eminente, a sobrecarga de trabalho, má utilização de
habilidades médicas e a falta de reconhecimento dos profissionais por parte das
chefias de enfermagem, parceiros médicos e familiares. Todas estas fontes de
stress, levam a manifestações no seio da equipa relacionadas com ansiedade,
tensão, fadiga física e emocional o que implicará, falta de segurança na
prestação de cuidados, pouco envolvimento nas relações com os utentes e seus
familiares bem como entre os parceiros da equipa. Uma equipa stressada falha na
humanização pela superficialidade com que presta cuidados, pelo afastamento que
impõe, pela falta de comunicação, pelo predomínio das técnicas sobre as
relações, pelos cuidados centrados na doença e nas técnicas e essencialmente
medicocênctricos em detrimento do doente que deveria ser sim, o centro dos
cuidados. Por todos estes motivos os autores sugerem que para cuidar é preciso
ser cuidado, numa alusão à importância de uma equipa gozar de boa saúde para
que cumpra com aquilo que é esperado de si, cuidar em cuidados intensivos de
forma humanizada. Esta humanização só será conseguida se os profissionais de
enfermagem se humanizarem para humanizar as suas práticas (Silva, 2000).
Nesta linha de pensamento está Ferrareze et al (2006), que no estudo
realizado concluíram que 66,7% da amostra, apresentava sinais de sofrimento
físico/psicológico, característico da fase de resistência ao stress. Perante
números tão marcados é urgente intervenção, cuidar de quem cuida. É necessário
investir mais esforços na prevenção do stress entre os enfermeiros, proporcionando
maior rendimento no trabalho, ambiente seguro, agradável e cuidados de
qualidade (Britto & Carvalho, 2005)
Na bibliografia consultada, verifiquei que de facto stress e burnout
entre os enfermeiros das UCIs, tem dado origem a muitos estudos que visam a
identificação dos agentes causadores e medidas que minimizem a sua prevalência
entre os enfermeiros.
Na perspectiva de Milliken et al (2007), e do ponto vista das
organizações de saúde, a ansiedade, o stress e o burnout dos enfermeiros são os
principais responsáveis pela morbilidade e absentismo entre esta classe
profissional e por isso é de todo desejável que os serviços implementem
medidas, programas que visem o seu controlo ou mesmo erradicação, na medida em
que o peso económico e a qualidade que cada vez mais se exige, assim o
determinam. Para estes autores é fundamental agir sobre as causas deste stress
e para isso, primeiro que tudo é preciso conhecê-las. São muitas as causas de
stress entre os enfermeiros a exercer em unidades críticas (Turley, 2005), a
natureza crítica dos cuidados, pouco pessoal para fazer face a contenção de
despesas numa filosofia de fazer muito e bom com pouco e exigindo-se o que à
partida não pode ser exigido, trabalho extraordinário inesperado mas frequente,
horário rotativo que não tem em conta as alterações fisiológicas inerentes a
este processo, pouco tempo de descanso entre um turno e outro, trabalhar de
perto e diariamente com a morte e com o sofrimento humano, o risco de acidentes
de trabalho sempre presente, maus relacionamentos com parceiros da equipa e com
outros de outras classes profissionais, dificuldades de relacionamento com as
chefias, avaliações injustas ou que não corresponderam às expectativas, a
possibilidade de um erro fatal. Para os autores seria importante que os
gestores de enfermagem implementassem um programa de gestão de stress que
tivesse em conta as seguintes linhas orientadoras: reuniões de serviço onde se
abordasse esta problemática sensibilizando para o problema; possibilitar a
presença na equipa de um profissional que proporcionasse apoio a nível
individual ou em grupo; as chefias devem sempre que oportuno utilizar o reforço
positivo como estratégia para motivar os seus profissionais; monitorização
sistemática do stress na equipa com aplicação de escalas e actuando sobre os
indivíduos com níveis mais elevados com medidas adaptadas às alterações que já
apresenta; utilizar férias ou folgas como estratégia para afastar enquanto
ainda possui mecanismos de defesa; respeito pelas pausas para café e refeições;
proporcionar pausas aos indivíduos que aparentem estar mais stressados ou após
uma situação emocionalmente difícil; instruir os membros da equipa para o
relaxamento e proporcionar por cada turno 5 minutos para o efeito; proporcionar
treino em comunicação (Verdon et al, 2007); aproveitar as reuniões de equipa
para actividades pré-reunião que promovam o bem-estar e o riso, por exemplo,
antes de uma reunião de serviço convidar os colegas a dar 2 minutos de massagem
nos ombros do colega que está à sua direita seguindo-se nos 2 minutos seguintes
o que está à esquerda, esta actividade costuma resultar numas boas gargalhadas,
contribui para a redução do stress e espírito de grupo/equipa. As chefias que
se preocupam com a gestão do stress no seio da equipa, estão a contribuir para
a qualidade de vida dos seus elementos e consequentemente a investir em
qualidade de cuidados de enfermagem e cuidados seguros.
Ainda a nível do stress profissional, acho válido destacar o trabalho
realizado por Santos & Teixeira (2008), que no seu trabalho de validação da
escala Nursing Stress Sacle à população portuguesa, concluem no seu estudo que
para actuar na prevenção deste fenómeno é fundamental a monitorização das
causas pela aplicação da referida escala aos enfermeiros em risco de vir a
desenvolver este distúrbio. Esta escala identifica sete causas de stress
profissional divididas por três dimensões: O ambiente físico, onde está
contemplada a causa, “carga de trabalho”; O ambiente psicológico, onde estão
incluídos, “a morte e o morrer”, “preparação inadequada para lidar com as
necessidades emocionais dos doentes e dos seus familiares”, “falta de apoio dos
colegas”, “incerteza quanto aos tratamentos”; O ambiente social, onde estão
incluídos, “conflitos com os médicos”, “conflitos com outros enfermeiros e com
os chefes”. Pela aplicação da escala é possível no trabalhar da mesma,
identificar pontos fortes e fracos na equipa, zonas onde é maior a
vulnerabilidade e a partir daí definir um plano de intervenção para o grupo ou
mesmo individualizado a uma equipa ou pessoa. As intervenções irão sempre de
encontro às áreas que necessitam de maior investimento. É um instrumento
constituído por 34 itens, muito fácil de preencher e que poderá ser uma
mais-valia importante em termos da intervenção, gestão e controle de stress na
equipa de enfermagem.
No caso do estudo apresentado por Hays et al (2006), um outro factor a
ter em conta e que necessita de ser estudado e monitorizado é o estilo de
coping do enfermeiro. No estudo apresentado identificou como principais agentes
stressores dos enfermeiros, a escassez de pessoal de enfermagem nos serviços em
estudo, o tipo de chefia, a presença de maus colegas, as tomadas de decisão e o
ambiente barulhento. Em relação aos estilos de coping demarca-se o “aceitar
responsabilidade”(acepting responsability),
como o estilo mais usado pelo grupo em estudo, seguido do “plano de resolução
de problemas”(planful problem solving).
Perante este estudo sugere-se como intervenção nas equipas de educação acerca
de coping e estilos de coping como forma de munir os enfermeiros com um
importante instrumento que auxiliará na manutenção da sua saúde mental.
Uma outra abordagem preconizada por Pereira & Bueno (1998), prende-se
com a utilização do lazer e recreação como estratégia utilizada para fazer
frente ao stress a que os profissionais de UCIs estão sujeitos. Para as autoras
o lazer poderá ser fundamental para cimentar as relações interpessoais e a
comunicação bem como para o alívio de tensões tendo em conta a melhoria da qualidade
de vida dos profissionais. Estas referem que os níveis de stress são elevados
(Gomes, 1988), essencialmente pelo ambiente, equipa, relação enfermeiro/doente,
relação enfermeiro/família.