A hipotermia induzida é uma estratégia neuroprotetora usada em cuidados intensivos para limitar lesões cerebrais após eventos hipóxico-isquémicos, como paragem cardiorrespiratória ou encefalopatia neonatal. O objetivo é reduzir o metabolismo cerebral e a cascata inflamatória.
🧊 O que é a hipotermia induzida?
Consiste na redução controlada da temperatura corporal para valores entre 32°C e 34°C, durante um período determinado (geralmente 24 a 72 horas), seguida de reaquecimento gradual. É aplicada em doentes com risco elevado de lesão cerebral após eventos como:
• Paragem cardiorrespiratória com retorno da circulação espontânea (ROSC)
• Encefalopatia hipóxico-isquémica neonatal
• Traumatismo craniano grave (em contextos específicos)
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🎯 Objetivos principais
• Neuroproteção: reduzir o metabolismo cerebral e a produção de radicais livres
• Minimizar edema cerebral e apoptose neuronal
• Melhorar o prognóstico neurológico pós-paragem cardíaca ou insulto hipóxico
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⚙️ Princípios fisiopatológicos
• A hipotermia reduz o consumo de oxigénio cerebral em cerca de 6-7% por cada grau Celsius abaixo da normotermia
• Diminui a excitotoxicidade, inflamação e apoptose
• Estabiliza a barreira hematoencefálica
• Reduz a libertação de neurotransmissores excitatórios como o glutamato
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🧪 Exemplo de Protocolo clínico típico
Fases:
1. Indução: iniciar o arrefecimento o mais precocemente possível (idealmente <6 horas após o insulto)
2. Manutenção: manter temperatura alvo (32–34°C) por 24–72 horas
3. Reaquecimento: aumento gradual da temperatura (0.25–0.5°C/hora) até normotermia
Métodos de arrefecimento:
• Dispositivos externos: mantas térmicas, colchões termorreguladores
• Técnicas invasivas: cateteres intravasculares com controlo térmico
Monitorização contínua:
• Temperatura central (esofágica, vesical ou intravascular)
• EEG ou aEEG (em neonatologia)
• Hemodinâmica, função renal, glicemia, eletrólitos
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📈 Resultados e evidência
• Em neonatologia, estudos multicêntricos demonstraram redução da mortalidade e melhoria do neurodesenvolvimento em recém-nascidos com encefalopatia hipóxico-isquémica 9F742443-6C92-4C44-BF58-8F5A7C53B6F1
• Em adultos pós-paragem cardíaca, a hipotermia induzida está associada a melhor recuperação neurológica em casos selecionados 9F742443-6C92-4C44-BF58-8F5A7C53B6F1
• Complicações possíveis: arritmias, coagulopatias, infeções, hipotensão, distúrbios eletrolíticos
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A hipotermia induzida é uma estratégia neuroprotetora usada em cuidados intensivos para limitar lesões cerebrais após eventos hipóxico-isquémicos, como paragem cardiorrespiratória ou encefalopatia neonatal. O objetivo é reduzir o metabolismo cerebral e a cascata inflamatória.
🧠 Considerações éticas e práticas
• A decisão de iniciar hipotermia deve ser multidisciplinar e baseada em critérios clínicos rigorosos
• A janela terapêutica é crítica: quanto mais precoce a indução, maior o benefício
• A formação da equipa de enfermagem é essencial para garantir segurança, vigilância e resposta rápida a complicações
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Referencias:
1. Sampaio I, Mendes da Graça A, Moniz C.
Hipotermia induzida na encefalopatia hipóxico-isquémica: da evidência científica à implementação de um protocolo.
Publicado na Acta Pediátrica Portuguesa, 2010; 41(4):184-190.
2. Ana Rosa et al.
Métodos preventivos de hipotermia em contexto perioperatório.
Universidade Católica Portuguesa, revisão sistemática (2011–2016).
3. Protocolo Assistencial – Cardiologia.org.br
Protocolo clínico para gestão da hipotermia em adultos e pediátricos.