Evitar a curarização (uso de bloqueadores neuromusculares contínuos) em doentes ventilados é uma decisão clínica importante, baseada no equilíbrio entre benefícios e riscos. Eis as principais razões para evitar a curarização prolongada ou desnecessária:
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⚠️ Riscos e razões para evitar a curarização em doentes ventilados
• Fraqueza muscular adquirida na UCI
O uso prolongado de bloqueadores neuromusculares está associado à miopatia e polineuropatia do doente crítico, dificultando o desmame da ventilação mecânica e prolongando o tempo de internamento.
• Aumento do tempo de ventilação mecânica
A curarização contínua pode atrasar o início do desmame ventilatório, especialmente se não for acompanhada de monitorização adequada da profundidade do bloqueio neuromuscular.
• Risco de awareness (consciência durante a sedação)
Sem sedação adequada e monitorização da profundidade anestésica (ex: BIS), o doente pode estar consciente, mas incapaz de se mover ou comunicar, o que é extremamente traumático.
• Complicações respiratórias e infecciosas
A imobilidade e a supressão da tosse aumentam o risco de atelectasias, pneumonia associada à ventilação (PAV) e outras complicações pulmonares.
• Trombose venosa profunda (TVP)
A imobilidade prolongada favorece a estase venosa e o risco de eventos tromboembólicos.
• Necessidade de monitorização rigorosa
A curarização exige monitorização contínua com TOF (Train-of-Four) para evitar bloqueio excessivo, o que nem sempre está disponível ou é corretamente utilizado.
• Interferência na avaliação neurológica
O bloqueio impede a avaliação clínica do nível de consciência e da função neurológica, o que pode atrasar o diagnóstico de complicações neurológicas
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✅ Quando pode ser indicada (com cautela)
Apesar dos riscos, a curarização pode ser benéfica em situações específicas, como:
• Síndrome de desconforto respiratório agudo (SDRA) grave, nas primeiras 48h, com hipoxemia refratária
• Ventilação protetora com asincronias graves não controladas com sedação
• Hipertensão intracraniana com necessidade de controle rigoroso da pressão
• Manutenção de relaxamento muscular em procedimentos específicos (ex: pronação)
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Referências:
1. Vilela H., Ferreira D.
Analgesia, Sedação e Relaxamento Neuromuscular no Doente Ventilado em Cuidados Intensivos Cardíacos
Revista Portuguesa de Cardiologia, 2006;25(2):217-229
Resumo: Aborda os efeitos adversos da curarização, incluindo fraqueza muscular, necessidade de monitorização rigorosa e impacto na avaliação neurológica.
2. Máximo M., Puga A.
Gestão da Sedação em Unidade de Cuidados Intensivos
Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, Vol. 30, Nº 4, 2021
Resumo: Reforça a importância de estratégias multimodais e sedação leve, alertando para os riscos da sedação profunda e bloqueio neuromuscular prolongado.
3. Cruz J.R.M., Martins M.D.S.
Pneumonia associada à ventilação mecânica invasiva: cuidados de enfermagem
Revista de Investigação em Enfermagem, 2018
Resumo: Estudo nacional que relaciona imobilidade e curarização com risco aumentado de infeções respiratórias, como PAV.
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